b. Claro que dizê-lo assim é, desde logo, suscitar a manifestação dessa mesma violência, exponenciando-a até ao mais agressivo maniqueísmo. Dito de outro modo: basta lançar uma pequena dúvida sobre o sentido, o significado e o funcionamento das chamadas redes sociais para que surja o contraponto das grandes verdades indiscutíveis — lugar-comum mediático: as redes sociais seriam uma espécie de realização utópica da "democracia" e, em particular, o paraíso reencontrado da "juventude".
c. Só por distracção ou cinismo se poderá ignorar que as redes sociais estão a reconfigurar toda a paisagem comunicacional dos seres humanos — no limite, o próprio conceito de identidade. Em todo o caso, a questão que aqui se refere decorre da sua própria percepção simbólica. Um pouco, afinal, como muitas convulsões capazes de abalar toda a esfera das relações humanas. Do mesmo modo que as maravilhas fundadoras do automóvel não nos impedem de pensar os efeitos (por vezes trágicos) da sua democratização, assim também vale a pena perguntar: de que social falamos quando falamos de rede social? Será que a vibração contagiante e comovedora de um milhão de pessoas em torno da Praça Tahrir se pode confundir com a consolidação linear da democracia?
d. Está, de facto, a nascer um social que se concebe, antes de tudo o mais, como virtual. Por isso mesmo, a sua força ("social") só aceita ser medida pelas quantificações próprias do virtual. Um pouco como se já não reconhecêssemos o social, a não ser que o seu funcionamento seja viral.
e. Uma grande ideia posta na Net pode gerar milhões de links. Exactamente como a mais básica estupidez. Ora, na democracia virtual, tais proezas tendem a equivaler-se na mesma apoteose: quem cria mais links, vence. Porquê? Porque este é um social dominado pela facilidade da afirmação quantitativa, quase sempre desconhecedor da complexidade e da exigência de qualquer relação humana que não se esgote na pueril competição mediática.
f. Não se trata de estar "fora" ou estar "dentro" das redes sociais. Como não se trata de resolver as tragédias ecológicas transformando todos os automóveis em sucata... Trata-se, isso sim, de perguntar duas coisas muito básicas:
1 - como habitar esse social que passou a confundir-se com o horizonte mais imediato de muitas actividades humanas?
2 - como pensar o social que não cabe em nenhuma das novas redes?
Estas perguntas desembocam em muitas e fascinantes ramificações. Citemos duas das mais óbvias:
a) - como fazer televisão face aos novos conceitos de social?
b) - que pensamento político (não) temos para lidar com esses conceitos?"
Estas perguntas desembocam em muitas e fascinantes ramificações. Citemos duas das mais óbvias:
a) - como fazer televisão face aos novos conceitos de social?
b) - que pensamento político (não) temos para lidar com esses conceitos?"
João Lopes, crítico de cinema, in blog Sound+Vision
09 de Março 2011
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