gosto muito.. (I)

Damien Rice

"I don´t want to change you"

Pai (IV)

o meu pai era um amante de África. Vibrava com tudo o que existisse aqui em Angola. Gostava mais da terra do que das pessoas. Isso é verdade. Mas chegou a um ponto em que até as pessoas o faziam vibrar, simplesmente porque eram daqui. apesar da mentalidade baça, apesar dos maus hábitos. apesar.
estou parada em frente à morte. aquela pessoa sempre afável, conciliadora. sempre pessoa.
pouco falava, aceitava o outro, especialmente os filhos. apenas aceitava e sentia orgulho de vê-los por aí, grandes, uns homens e umas mulheres.
agradeço ao meu pai o percurso que fez. A decisão de nos ter tirado daqui, de nos ter permitido crescer num outro lugar.
agradeço à vida por me ter permitido conviver muito com ele aqui, agora, nesta África com a qual não simpatizo. de todo, não me identifico. e que sugou o meu pai.

nice! nice! nice!

Alt-J

"Breezeblocks"

Pai (III)

"Marinheiros alemães cantam uma canção embriagada na rua, e todas as noites uma aranha tece uma nova teia por cima do fogão e, para Marie Laurie, isto é uma dupla crueldade: o facto de tudo o resto continuar a viver, o facto de a Terra giratória não parar por um instante que seja na sua viagem em torno do Sol."

Anthony Doerr in Toda a Luz que não podemos ver

longínquo

De cada vez que coloco os pés neste mundo parece que deixo de acontecer. Os dias correm o mais depressa que podem para me tirar daqui. E eu faço tudo o mais que posso para não pensar que estou aqui.

Havana tornou-se um sítio de medos, de pensamentos que não quero ter, de memórias que não posso ter, mas que mereço ter de tanto sonhar. Sinto pena do curso das coisas, porque como romântica sinto pena das coisas que não acontecem. Como pessoa apaixonada sei e sinto e quero que não aconteça. Estou bem. Não estando neste lugar. 

(texto do longínquo ano de 2015)

gosto muito..

Lord Huron

"The night we met"

Konstantin (I)

o dia em que me afastei de ti. e todas as músicas com que convivi.
o dia em que te foste depois de teres estado. um encontro inesperado.

Devendra Banhart

"I Remember"

Pai (II)

Há certas coisas que passaram a ser de facto abstractas: o teu andar, o teu sorriso, o brilho dos olhos, e quando pensamos muito nelas ficamos loucos. e a vida perde o pouco sentido que tem. e as nossas mãos tentam ainda pegar/agarrar alguma coisa. o que fica. o que ficou.
ao longe um título de um livro qualquer. Fazes-me falta.
Que sentido para tudo isto?

D. Noemi

a morte... esse mistério profundo...

Pai (I)

"Tocando em frente"

Maria Bethânia

Pai

Tocando em frente

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Almir Sater (e eu que pensava que era da Maria Bethânia e pronto!)

instalação

Duarte

Lisboa, 09 Janeiro, 2019